quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Oculto deserto

Deserto, deserto
Sem oásis ou promessa
Não sei se lhe atravesso
Ou lhe peço
Outra vez
Árido deserto
Que fique assim
Por não visto
Ao passo que todos miram
Paços, quintas e jardins
Tu permaneces intacto
Dentro de mim.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fragmento cruel

Cruel este fragmento
Que me angustia
Para terminá-lo
Antes que deixe de ser
Um haikai

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sombra

Na penumbra
A sombra se move
Repartida
Nem ela sabe ao certo
Qual parte lhe toca
A sombra é ambígua
Humana, por definição
Nasce da luz
E morre na escuridão

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No templo, um samurai

O samurai impávido
Colosso de medo
Adentra o templo

Passeia a espada
Por cabeças serenas

De olhos fechados
O monge ora e sente
O frio da lâmina

Verte um suspiro
E oferece o pescoço antes de dizer:
Minha cabeça pela sua alma

O samurai baixa os olhos e se retira:
Não tinha moeda de troca

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Satori

Caminhar é profundo
Feito um estado
De iluminação
Cada passo
É um abalo
Sísmico
A gente anda
E não percebe
A arte
Do equilíbrio

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Traço

Largou-se pelas quadras
Etéreas, concretas
Perdeu-se pelos eixos
Diáfanos, esotéricos
Enlouqueceu entre o mármore
E o céu
Saiu voando pelo Plano
Ligado no Piloto
Automático
E sem saber o que fazer de si
Jogou-se na Esplanada
Escalou um Ministério qualquer
E descobriu que era real
A tal maquete por onde delirava...
O rabisco suicida incorporou-se
À paisagem
.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A ilha

Vitória é um lugar que flutua
Na mais intrínseca solidão
Diria que Vitória ultrapassou os limites da ilha
Para virar armadilha
Dos ilhéus que permanecem...
Mas que importa permanecer ou fugir?

Eu mesmo ilhéu que escapou
Eternamente me vejo boiando
No espaço de um mar que nunca termina
Vitória permanece intacta
Neste pedaço que carrego
Mesmo que Vitória me diga:
Filho ingrato
Bem que tu mereces
Moras longe mas continua ilhado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Breve Histórico

Eu que me nasci em ilha
Doravante navalha de caranguejos alados
Eles todos aterrados na lama do manguezal
Eu que me deixei na trilha
Longe do mar que fundei na estrada seca
A caminho de um oeste que se fez árido
E depois transmutado em bússola na direção norte
Brasília, inventada ou projetada
Devorou-me pelas quadras
Não fui turista, nem por acidente
Cada passo, desde a areia incandescente da velha,
Quatrocentona Vitória, regiamente imaginado
Fingi que destinos são amontoados de acasos
Ou que os acasos matam crianças cheias de ilusão
Nada planejei ou previ, para renascer no caminho
Entre areias, mares e sertões
É tanta memória na cabeça do ilhéu
Que o mar lhe afoga
Os pensamentos
Na solidão do interior
Dele próprio.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sobre o amor e o tempo

Os amantes se movem
No sem fim horizonte
E da montanha mais alta
Saltam despenhadeiro afora...

Os amantes são gente pássaro:
Humanos que aprenderam a voar

Eles procuram sentido no vazio
Mas nada faz sentido no amor
Além do próprio ato de amar

Navegam sobre o mar do tempo
Espaço do soberano amor
Dono do tempo
Como se tempo não existisse
No tempo do amor vivido.

Vento leve

Leve-me
Ventania afora
Faça do vento
Caminho no espaço
Mais leve
Que o ar
É o sonho
De voar

Reflexos do Divino

Estrelas cadentes
São fogos de artifício
Do menino Deus

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sentida Ausência

Foste em viagem
E eu aqui permanecido
Como se tivesse ido…
Para dentro
E bem noto que o centro
De toda distância que se fez
Não foi teu avião que partiu
Mas o eu mesmo que sumiu

Como se detalhasse os dias
A tua espera
Numa outra esfera
Também passada no estrangeiro
Este viajante melancólico
Atônito,
Desatento de si
Exilado no país interior.

Foste embora por uns tempos
E eu aqui aos meus relentos
Mais distante de mim
Que tua distância do Brasil.

Estado Condição

A PEDRA NÃO CONHECE
O PRAZER DE NASCER ÁGUA

NEM O LEÃO SABE
DA PLENITUDE DO PÁSSARO

QUANDO AMO
DESCONHEÇO MEU ESTADO

MATÉRIA DESCOLADA
GÁS ETÉREO DECIDIDO

PARA SEMPRE VIVER NUVEM

Brasilonely

Afogado, caído
No país profundo
Oceano cerrado

Paisagem primeira
Última impressão

Moro na cidade céu
No descampado coração

Espaço contido
Deliberado vazio

Brasília central
Central para nada
De plenos, totais
Transitórios poderes

Cidade qualquer
Cidade nenhuma
Urbanidade pluma

Leve, diáfana
Invisível metáfora

Para onde vai
Cidade pássaro
Quem sou eu
No ventre do avião...?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sol da Consciência

Surjam vocês todos
Que se esgueiram
Por becos sujos
Que surgem quando passam

Dêem um passo
Ainda que impreciso
Tragam pão e vinho
Duas taças...
Cruzem meu caminho

Morem nas sombras
Mas guardem luz nas trevas
Olhem para o céu
E fujam no amanhecer

Dia seguinte dêem as caras
Brotem com a noite
Feito sementes de escuridão

E saibam, por fim,
Que o sol não poupará
A lua,
O segredo
A sombra e o medo

quarta-feira, 22 de abril de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

É pra já

Imediato Futuro
Ele me assalta
Antes que eu termine o pensamento....

Assimetrias

Prosa é monumento
Poesia some com o tempo
Passei dois meses para erguer um conto
E apenas oito segundos para chegar neste ponto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Diáfano desejo

A vida rasga...
Ou desabotoa
De dentro da blusa
Saltam seios, sereias
Outonos e verões.
E eu...
O que mais faria
Senão escolher
Entre o toque
E a fantasia?

Poesia do homem comum

Brilhamos todos
Brutas pedras
Ou diamantes lapidados
Histórias de dois lados
E o caminho do meio...
Onde cruzamos desiguais

Algo deveria permanecer
Entre o cristal
E o caco de vidro
Algo que nos fizesse crer:
Somos preciosos
Ainda que ordinários.

domingo, 5 de abril de 2009

De pampas e cerrados

Desci o Eixo...
Monumental de Nuñez
Ouvindo um tango
Lembrando a Recoleta
Em transe de Niemeyer

Brasília foi pelos Aires
Assim que pisei
Portenha rosa
E deixei pelo asfalto
Vaga lembrança
Longínquo ruído
De bandoneon
Que zunia feito meu coche
Em disparada pelo eixo
Para afinal encontrar
A esquina que vai unir
Este delírio de cidade.

Sem sinal

No dia que não consigo escrever nada
Eu sei que alguém roubou meu sinal
Ninguém é poeta
Senão antena.

sábado, 4 de abril de 2009

Espelhar

Confunde-me
Tua presença
Ao espelho
Aquilo que vejo
Ocultado
Funde-se na imagem
Do infinito, que circula
Ao refletir
Eternamente projetado
Como se espelho fosse
Tudo aquilo
Que demonstro
Ocultar
Na presença
Do que espélho
Ao viver

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Interlúdio

Inventam-se
A noite, o azul
O prazer
Bebem-se
O cálice, a vida
A mulher
Pisam-se pedras, espinhos
Cetins
Deitam-se lençóis, amores
Carmins
Até o dia que nada se pisa,
Se bebe, se inventa
Ou seduz
Resta o avesso, o mistério
E um facho de luz...

Premência

Torturam-me, por vezes
O peito, o plexo
Que pede algo
Sem contexto, sem nexo
Por dentro, o tal incômodo
Fere, grita, machuca
Feito golpe, dúvida, punhal
Tragam-me rápido
Papiro, teclado, mural
Das duas uma:
Ou parimos a palavra
Ou matamos o poeta.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Garrafa

Que espécie de amor diáfano,
Zen budista
Lançaria um vidro sem nada
Em direção a lugar nenhum?

Encontrada a garrafa
Onde estaria a mensagem?
Aberto o vidro
Qual seria a razão?

E a garrafa permanece ali
Jogada, solitária

Porque nada tinha a dizer
Nem papel
Nem mensagem

Quantas garrafas e quantos vazios
Cruzam mares e pensamentos
Partem na visão de mistérios
E chegam límpidos e evidentes
Pousando a lente indecifrável
Da mensagem
No vazio da garrafa

O fugitivo

O solitário fugiu de si
Mas não encontrou quem lhe desse asilo
Ficou vagando no próprio corpo apontando uma faca que pegou na cozinha
Cortou o pulso para ver se achava alguém ali dentro do próprio país
Foi acusado de genocídio por um sujeito que morava dentro do coração
Fora os habitantes da cabeça, do fígado baleado e dos rins em estado de petição
Tinha tanta gente dentro do solitário que ele resolveu ir no pronto socorro dar uns pontos.
Esqueceu a história do exílio e deixou as férias para depois. O solitário descobriu que era multidão

Fundos

Eu me afundo enquanto sinto
Afundar naquilo que nunca
Se chega ao fundo
Os fundos de poço
Navios afundados
E apesar de profundo
Nunca se chega ao fundo
Daquilo que se considera
O fundo da questão
Os fundos de mar
Os fundos de coração
O desejo mais profundo
Afundado em questões
Profundas
E absolutamente...
Infundadas

As portas

Fora
As portas
As janelas
Dentro
Os terrores
Noturnos
Durma-se em vão
Pois bate a porta
De dentro pra fora
E vão-se horas
De sono
Encontrei meu baú
De escritos
Tão distantes
E assim que os vi
Bati a porta
Aquelas
De fora
Pois dentro
Nada encontrei...

Velas

Velas

Releve as velas
Que lancei
E acendi
Revele se é fogo
Ou mar
Aquilo que me perdi

domingo, 29 de março de 2009

Insondável

Insondável desígnio
Que me cerca
Insondável futuro
Premonitório
Que sabemos
Que sondamos
Que somos
Sondados

Insondável manhã
Esta que chega
Sonda, sonar
Captemos
Insondável palavra’
Que tento
Pelas sombras’
Capturar

Cegos e opacos

Turva
Água clara
Claro
O fundo
Que não vejo
Pode ser
Transparente
O vidro
Mas cego
O olho
Que acende
Porque turva
A alma
Que nada vê
Por mais evidente
Translúcida
Que seja
A água
E o amanhecer...

sexta-feira, 20 de março de 2009

E a luz se fez...

Mil raios fulminados
Rasgaram a madrugada....
Mil sonhos acalentaram
O amanhecer de Netuno
E o mar se agitou
Como nunca antes
E o céu eclodiu
Poesias fantásticas
Palavras de Amor
Olhares radiantes
Viceja e Vislumbra
Vidente mistério
Que venha o futuro
Grávido no presente
Que seja Vicente
O vencedor
Filho visionário
Da nova era vivida

Para meu filho

terça-feira, 17 de março de 2009

Cartão de visita

Este é um blog de prosa e poesia. Neuroghost é uma brincadeira com os neurocientistas. Caso, algum dia, achem a resposta de tudo nos miolos, ainda assim resistirá o inefável. Não estarei aqui para explicar nada. Deixo que eles digam o que é verdade.
Eu fico com as mentiras bem contadas. E assim vamos.
Teto solar é a abertura necessária para que raios entrem por nossas cabeças e iluminem os neurônios fantasmas. Faz também referência a carros esportivos e velozes. Eles seriam o veículo de Dionísio transposto à hiper-modernidade. Um brinde às palavras que nos tragam prazer.
Um grande abraço

Abaixo, a primeira poesia do blog

Identitudo

Você me pergunta quem sou
Eu digo que sou o não visto
O não dito
O avesso daquilo tudo que se pretende
Em vão me apresento
Porque ainda persiste o vácuo
Da identidade não revelada
Identifica-se a foto em branco
A interrogação primeira
Que resiste no vão da resposta
Vagueia o tal eu
Aquele que você perguntou quem era
E ainda persiste dizendo...
Quem seria senão tudo.