No vão do mundo vivem aqueles sem lugar
Uns não tem casa, mas não falo aqui de um teto
O lugar é o próprio mundo no ato de existir
Existo porque vivo aqui neste vão central
No poço de mim mesmo.
Olho para fora na busca de um mundo que seja meu
Sonho delirante de alguém sem teto
Teto que abriga alguém sem lugar
Na busca de um mundo para existir
Mesmo que ele exista dentro de si
No vão do mundo e no poço de mim mesmo.
Teto Solar
Blog poético
sexta-feira, 3 de março de 2017
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
O Breve Sonho da Infância
Por um instante, rasgou-se o véu da memória
Eu vejo minha rua quando menino
O êxtase na eternidade do agora
Daquela energia que não cabe no corpo de uma criança
Ela transborda na euforia de um grito
Contenho o grito para surgir um adulto
A rua parece mover-se para dentro do sonho
Nasci aqui em meio aos espantos da infância
O galho de árvore que peguei para riscar o chão
A pedrinha que atirei na poça d’agua
A caminhada trôpega ancorada no braço do pai
A rua foi desfigurada como o rosto no espelho
O espanto agora é o tempo, a voragem do tempo
Atravesso um portal azul e me despeço
Do breve sonho da infância
Mesmo que a criança continue a existir
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
O mistério da palavra
Todo poema emerge de um vazio
De um lugar não dito
Todo poema emerge do nada
Assim como nada se faz vazio no poema
Todo poema sem rima, sem métrica, sem pressa
Todo poema emerge sem que eu meça
Cada palavra que coube nele
Todo poema vem de uma dor feliz
Que atravessa a rua para encontrar quem diz
Que todo poema emerge de um vazio
E retorna ao pó de um armário antigo
Cheio de palavras não ditas
E agora encontradas
Todo poema emerge para voltar a ser nada
Assim que termina o poema
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Madrugada
inquieta
Toda noite eu procuro
O sonho que fugiu de mim
Toda tarde eu vagueio
Tentando lembrar do sonho
Toda dia eu não durmo
E sem sono fico escrevendo
Eu queria sonhar acordado
E dormir só por esporte
Deitado não vejo sentido
Escrevendo não acho a palavra
Acordado eu morro de sono
Noite confusa
Manhã de cansaço
É a palavra, mais o sonho
Que fazem da minha cama
O ponto de mutação
Internet
Existem sinais voando
Na vertigem do mundo estranho
Muitas mensagens rápidas
E nenhuma resposta que chegue a tempo
Pois não tem velocidade que segure
Não tem tecnologia que me cure
Nenhuma virtualidade que alivie
A sede que me assalta
Cada beijo que me falta
Na solidão da infovia
Feroz doença de internauta
Fundos
Eu me afundo enquanto sinto
Afundar naquilo que nunca
Se chega ao fundo
Os fundos de poço
Navios afundados
E apesar de profundo
Nunca se chega ao fundo
Daquilo que se considera
O fundo da questão
Os fundos de mar
Os fundos de coração
O desejo mais profundo
Afundado em questões
Profundas
E absolutamente...
Infundadas
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