Por um instante, rasgou-se o véu da memória
Eu vejo minha rua quando menino
O êxtase na eternidade do agora
Daquela energia que não cabe no corpo de uma criança
Ela transborda na euforia de um grito
Contenho o grito para surgir um adulto
A rua parece mover-se para dentro do sonho
Nasci aqui em meio aos espantos da infância
O galho de árvore que peguei para riscar o chão
A pedrinha que atirei na poça d’agua
A caminhada trôpega ancorada no braço do pai
A rua foi desfigurada como o rosto no espelho
O espanto agora é o tempo, a voragem do tempo
Atravesso um portal azul e me despeço
Do breve sonho da infância
Mesmo que a criança continue a existir